11.8.12

Veja adota tática do avestruz no caso Policarpo

via brasil 247

 Veja adota tática do avestruz no caso PolicarpoFoto: Edição/247

NÃO É NORMAL UM JORNALISTA PEDIR A UM BICHEIRO, USEIRO E VEZEIRO DE GRAMPOS ILEGAIS, QUE LEVANTE LIGAÇÕES DE UM DEPUTADO; NO ENTANTO, EM VEZ DE RESPONDER À REPORTAGEM DE CARTA CAPITAL SOBRE AS LIGAÇÕES ENTRE POLICARPO E CACHOEIRA, A EDITORA COMANDADA POR FÁBIO BARBOSA SE CALOU SOBRE O CASO; NESTA EDIÇÃO, A REVISTA DECLARA APOIO AO GOVERNO DILMA

Na próxima terça-feira, o deputado Doutor Rosinha (PT-PR) apresentará o pedido para convocação do jornalista Policarpo Júnior, chefe da revista Veja em Brasília, pela CPI da Operação Monte Carlo. Durante anos, o bicheiro Carlos Cachoeira, useiro e vezeiro de grampos clandestinos e ilegais, foi a principal fonte de Policarpo. O argumento pela convocação de Policarpo foi reforçado pela capa da revista Carta Capital deste fim de semana, que traz um grampo em que Policarpo pede a Cachoeira que levante algumas ligações de um deputado: o goiano Jovair Arantes, do PTB. O bicheiro promete resolver o assunto com o araponga Idalberto Matias, o Dadá, especializado em arapongagem clandestina.
Há, no entanto, um pacto de silêncio na imprensa brasileira. Nenhum veículo que integra a chamada “grande mídia” – ou o chamado “Partido da Imprensa Golpista”, como alegam seus críticos – repercute notícias da revista Carta Capital. Foi assim, por exemplo, na lista recente sobre o mensalão mineiro e o mesmo ocorre no caso Policarpo. Alguns jornais, como a Folha de S. Paulo, por exemplo, já decretaram que há apenas uma relação “fonte-jornalista” no envolvimento Policarpo-Cachoeira.
No resto do mundo, no entanto, escândalos que atingem a mídia são cobertos por todos os veículos – a começar por aqueles que são atingidos pelas denúncias. Nesta semana, por exemplo, a revista Time e a televisão CNN decidiram suspender o colunista Fareed Zakaria, um dos mais consagrados comentaristas norte-americanos, porque ele está envolvido num caso de plágio. Na Inglaterra, a ex-toda-poderosa Rebekah Brooks, que comandava o império de tabloides de Rupert Murdoch, terminou no banco dos réus porque estava envolvida, também, num escândalo de grampos ilegais contra celebridades. Murdoch pediu desculpas e fechou um jornal.
Tática do avestruz
No Brasil, o jogo é muito diferente. Embora o caso Policarpo-Cachoeira tenha se espalhado como pólvora na internet e nas redes sociais, a revista finge que não é com ela. Falou uma vez, no início da crise, citando um trecho parcial de um grampo, em que Cachoeira dizia que “Policarpo nunca vai ser nosso”, e na semana retrasada, quando Andressa Mendonça, esposa do bicheiro, chantageou um juiz, ameaçando soltar, pelas mãos de Policarpo, um dossiê negativo contra ele, em Veja.
Nesta semana, seria natural que Veja voltasse a falar sobre o caso. Afinal, não é normal que um jornalista peça a um bicheiro que levante ligações de um deputado democraticamente eleito. O crime não pode ser colocado a serviço da agenda política de uma revista. Por mais que isso pareça óbvio, Veja decidiu se calar. E a Editora Abril, comandada pelo executivo Fábio Barbosa, antes um porta-voz da transparência corporativa, cada vez mais adota a estratégia do avestruz, enfiando a cabeça debaixo da terra.
Mais do que simplesmente não se posicionar, há também um intenso jogo de pressões. Barbosa, no início do CPI, foi a Brasília e falou com líderes de vários partidos, para que nem Policarpo nem Roberto Civita fossem convocados. O vice-presidente, Michel Temer, foi também procurado por João Roberto Marinho, das Organizações Globo, que apresentou a mesma demanda: imprensa na CPI, jamais!
Quem ganha com isso? A internet, que se consolida como terreno da liberdade, onde todos os assuntos podem ser tratados sem nenhum tipo de censura.
Neste fim de semana, Veja não fala sobre o caso Policarpo-Cachoeira. Mas declara seu apoio à presidente Dilma Rousseff. A capa, que trata de um suposto “choque de capitalismo” promovido pelo governo, aborda o plano de concessões que será divulgado na quarta-feira. “Está aí uma batalha para a qual a presidente vai precisar do apoio da opinião pública. O de Veja fica desde já aqui hipotecado”, escreve Eurípedes Alcântara, em sua Carta ao Leitor.
No momento em que sua imagem é abalada por um escândalo, Veja “dilmou”.

10.8.12

PIG: LEANDRO E A CARTA PEGAM A VEJA.

via Conversa Afiada

Conversa Afiada republica texto de Leandro Fortes sobre a reportagem que escreveu esta semana para a Carta Capital.

Não deixe de ler também sobre os documentos publicados num post sobre o “Caneta”, o Policarpo.

O TRISTE FIM DE POLICARPO JR.



Por Leandro Fortes

Na CartaCapital dessa semana há uma história dentro de uma história. A história da capa é o desfecho de uma tragédia jornalística anunciada desde que a Editora Abril decidiu, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, que a revista Veja seria transformada num panfleto ideológico da extrema-direita brasileira. Abandonado o jornalismo, sobreveio a dedicação quase que exclusiva ao banditismo e ao exercício semanal de desonestidade intelectual. O resultado é o que se lê, agora, em CartaCapital: Veja era um dos pilares do esquema criminoso de Carlinhos Cachoeira. O outro era o ex-senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Sem a semanal da Abril, não haveria Cachoeira. Sem Cachoeira, não haveria essa formidável máquina de assassinar reputações recheada de publicidade, inclusive oficial.

A outra história é a de um jornalista, Policarpo Jr., que abandonou uma carreira de bom repórter para se subordinar ao que talvez tenha imaginado ser uma carreira brilhante na empresa onde foi praticamente criado. Ao se subordinar a Carlinhos Cachoeira, muitas vezes de forma incompreensível para um profissional de larga experiência, Policarpo criou na sucursal da Veja, em Brasília, um núcleo experimental do que pior se pode fazer no jornalismo. Em certo momento, instigou um jovem repórter, um garoto de apenas 23 anos, a invadir o quarto do ex-ministro José Dirceu, no Hotel Nahoum, na capital federal. Esse ato de irresponsabilidade e vandalismo, ainda obscuro no campo das intenções, foi a primeira exalação de mau cheiro desse esgoto transformado em rotina, perceptível até mesmo para quem, em nome das próprias convicções políticas, mantém-se fiel à Veja, como quem se agarra a um tronco podre na esperança de não naufragar.

A compilação e análise dos dados produzidos pela Polícia Federal em duas operações – Vegas, em 2009, e Monte Carlos, em 2012 – demonstram, agora, a seriedade dessa autodesconstrução midiática centrada na Veja, mas seguida em muitos níveis pelo resto da chamada “grande” imprensa brasileira, notadamente as Organizações Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e alguns substratos regionais de menor monta. Ao se colocar, veladamente, como grupo de ação partidária de oposição, esse setor da mídia contaminou a própria estrutura de produção de notícias, gerou uma miríade de colunistas-papagaios, a repetir as frases que lhes são sopradas dos aquários das redações, e talvez tenha provocado um dano geracional de longo prazo, a consequência mais triste: o péssimo exemplo aos novos repórteres de que jornalismo é um vale tudo, a arte da bajulação calculada, um ofício servil e de remuneração vinculada aos interesses do patrão.

A Operação Vegas, vale lembrar, foi escondida pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel, este mesmo que por ora acusa mensaleiros no STF com base em uma denúncia basicamente moldada sobre os clichês da mídia, em especial, desta Veja sobre a qual sabemos, agora, que tipo de fontes frequentava. Na Vegas, a PF havia detecdado não somente a participação de Demóstenes Torres na quadrilha, mas também de Policarpo Jr. e da Veja. Essa informação abre uma nova perspectiva a ser explorada pela CPI do Cachoeira, resta saber se vai haver coragem para tal.

Há três meses, representantes das Organizações Globo e da Editora Abril fecharam um sórdido armistício com Michel Temer, vice-presidente da República e cacique-mor do PMDB. Pelo acordo, o noticiário daria um descanso para Dilma Rousseff em troca de jamais, em hipótese alguma, a CPI do Cachoeira convocar Policarpo Jr., ou gente maior, como Roberto Civita, dono  da Abril. A fachada para essa negociata foi, como de costume, as bandeiras das liberdades de imprensa e de expressão, dois conceitos deliberadamente manipulados pela mídia para que não se compreenda nem um nem outro.

No dia 14 de agosto, terça-feira que vem, o deputado Dr. Rosinha irá ao plenário da CPI apresentar um requerimento de convocação do jornalista Policarpo Jr.. É possível, no mundo irrreal criado pela mídia e onde vivem nossos piores parlamentares, que o requerimento caia, justamente, por conta do bloqueio do PMDB e dos votos dessa oposição undenista sem qualquer compromisso com a moral nem o interesse público.

Será uma chance de ouro de todos nós percebermos, enfim, quem é quem naquela comissão.

No mais, CartaCapital, já nas bancas.

E, definitivamente, nem veja as outras.